Dois dias depois de apresentar um “editorial” em defesa da diversidade e em repulsa ao preconceito, Pedro Bial voltou a fazer um discurso com cara de explicação oficial da emissora: “Dourado não foi homofóbico no BBB”, decretou, sem apresentar argumentos a favor ou contra, momentos antes de anunciar o lutador como o vencedor do prêmio de R$ 1,5 milhão.
Foi o único momento estranho na animada festa de encerramento da décima edição – quase duas horas de programa, com edição caprichada, inúmeros quadros de antologia, show de Ivete Sangalo e “recorde mundial” de votos em programas do gênero, segundo a emissora (154,8 milhões).
Os números consolidados da audiência e o balanço da operação comercial dirão se esta edição foi ou não um sucesso. Mas é fato que foi uma das mais polêmicas e comentadas, tendo provocado discussões pesadas e, até, intervenção da Justiça no programa. O que se segue é uma tentativa de resumir o que deu e o que não deu certo no BBB10:
O que funcionou
1. Elenco: O “zoológico humano”, como classificou Pedro Bial, nunca foi tão variado e eclético. Os 15 participantes selecionados pela produção ofereciam possibilidades de enredos muito diferentes – além das modelos e dos fortões de sempre, havia uma lingüista, um publicitário, uma PM, uma dentista e um maquiador.
2. Diversidade: A inclusão de três gays assumidos na casa ofereceu ao grande público uma rara visão, na TV, de diferentes aspectos do universo homossexual. Um avanço, pois, como diz o novelista Aguinaldo Silva, “há telespectador da Globo que não sabe nem que homossexualidade existe...”
3. Boninho no Twitter: O diretor assumiu o papel de animador de auditório na rede social. Deu notícias em primeira mão, substituindo a assessoria de imprensa da Globo, respondeu a leitores, polemizou com repórteres e críticos dos quais discordou, fez piadas, recolheu sugestões e, em um raro momento de humildade, admitiu erros do programa no Twitter.
O que não funcionou
1. O retorno dos que não foram: A prometida “surpresa” de Boninho no BBB10 foi o convite a dois ex-participantes do programa, entre cinco, a voltar à casa. O primeiro sinal de que a ideia não era boa foi dado por Fani, que passou mal ao saber que não havia sido uma das escolhidas. O segundo sinal foi captado internamente pelos novatos, que trataram de indicar Joseane na primeira votação, e pelo público, que a eliminou de imediato.
2. BBBólogo: Marcelo Dourado mostrou que o conhecimento adquirido em sua primeira – e desastrada – participação foi uma vantagem em seu retorno. Mais maduro e esperto, o lutador deu ritmo ao jogo e impôs aos demais a sua maneira de encarar a disputa. Claramente, desequilibrou o jogo.
3. Duas casas: A divisão por tribos óbvias e, em seguida, por casas (“luxo” versus “puxadinho”) estabeleceu uma dinâmica ao programa, que terminou por se tornar previsível. O problema já havia ocorrido no BBB9, mas acentuou-se nesta edição. Por várias semanas, o público conseguiu prever quem ia para o paredão.
4. Informação externa: Sempre vaza alguma coisa de fora para dentro, mas no BBB10 só faltou eles leram jornal ou acessarem a internet. Em duas situações (“poder supremo” e votação de um desenho), os candidatos tiveram uma informação sobre a popularidade de Dourado. No Carnaval, Dicesar e Cacau receberam várias dicas do público. Fernanda recebeu uma carta com informação que mudou seu comportamento no jogo, além de ter dito que foi instruída pessoalmente pelo “boss”.
5. Votar até o dedo cair: A suspeita de que alguns fã-clubes conseguiram burlar a votação da Globo prosperou na Internet e a emissora não fez o menor esforço em provar que o seu sistema é seguro. A Globo também se mostrou indiferente às suspeitas provocadas pelas grandes oscilações no número total de votos. De um paredão com 92 milhões de votos (Cacau) registrou-se, uma semana depois, um com 37 milhões (Eliéser). De um paredão com 12 milhões (Serginho) o programa saltou, apenas dois dias depois, para um com 92 milhões (Maroca).
6. Chacrinha? Depois de Dourado, Pedro Bial foi o participante que mais chamou a atenção no BBB. Gaguejou na estreia, foi grosseiro com Lia, ao dizer que ela “provocou” o rapper Akon, tripudiou de Eliéser em várias situações, abusou das piadas sem graça, insistiu em discursos sem pé nem cabeça e não disfarçou suas antipatias. Em várias ocasiões parecia abatido. No programa de encerramento, estava visivelmente alegre, mas não perdeu o costume de apelar. Chamou Cadu de “pinto doce” e disse que Fernanda tem cara de “meliante”.
Que venha o BBB11.
O que a vitória de Dourado ensina ao BBB11
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Postado por
Mateus Lemos
Marcadores:
BBB 10
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